Hoje é sábado, tudo é tempo em mim.
Tímido, o coração vagueia nas imagens
ante o intenso resplendor do sol,
que ofusca entre o telhado de zinco
e os vidros dos edifícios sonolentos.
Penso na lentidão do mundo,
nas coisas rotundas e reais que vejo,
o passar dos anos, os corpos amados,
as bocas esquecidas, a doçura das crianças,
o fragor,a incadescência do amor no meu peito.
Imagino um horizonte que não me imobilize,
um país florido, uma côr na imaginação.
Acredito que há um lugar algures,
onde gostasse de ir, escondido num bosque,
perdido numa praia envolta na bruma.
Descendo a vereda, ouço ondulados rumores,
vozes, latidos, sinos, risos e música,
fluindo de outros tempos como sangue.
Ao longe, sobre o mar, adejam gaivotas,
alvas como o futuro dos homens.